por Drika Yar
O ladrão deu de ombros. Na rua, não tinha nem uma alva viva. Só ele e o seu alvo. Esse serviço seria moleza!
– Passa logo a carteira!
– Cuméquié?
– Melhor perder os anéis que os dedos da mão! – O ladrão apontou a arma para a mão do alvo.
– Sei não. O mal do urubu é pensar que o boi tá morto!
– Que boi? O boi morreu! Antes ele do que eu!
– Até parece. – disse o alvo com pseudo-desdém. – Cão que ladra, não morde!
– E gato escaldado tem medo de água fria! Quer testar?
– Gato que é gato tem sete vidas! – O alvo retorquiu dando de ombro.
– Tu é debochado mesmo, hein! Quem vai perder a vida, logo, logo é você!
– Calma! Respire fundo! Pense bem, se te der tudo, tô ferrado. Afinal, quem dá o que tem, a pedir vem!
– Se liga! Pé que dá fruta é o que mais leva pedrada. – O ladrão respondeu já perdendo o pouco de paciência que tinha – E vê se passa logo a p… do dinheiro!
– Primeiro você pediu a carteira, agora o dinheiro. Decida-se! Você tá mais perdido que agulha num palheiro.
– Por que você tá fazendo esta ladainha toda? Quando o amor bate a porta, o dinheiro sai pela janela. – O ladrão disse indicando a aliança. – E, aliás passa a aliança também!
– Nem tudo que reluz é ouro, sabia?
– Se essa merda não for de ouro, volto e te dou uma porrada! – o ladrão parou e pensou em silêncio. – E como quem não tem cão caça com gato, passa isso e o relógio também!
O alvo entregou seus pertences e fez bico como uma criança contrariada.
– Sácôé, né, mermão? – Fez pouco caso o ladrão – Em terra de cego quem tem um olho é rei, e eu tenho olho pra otário!
– Não sei por que você tá rindo. Sabia que quem ri por último ri bem melhor?
– Em boca fechada não entra mosca, – Ameaçou o ladrão com a arma. – …, nem azeitona!
– Mas quem foi rei nunca perde a majestade.
– Ema, ema, ema. Cada um com seus pôbrema! – Disse o ladrão virando de costas para ir embora.
– Concordo! – O Alvo disse quase não acreditando no que estava acontecendo logo com ele.
Sacodindo a cabeça, o alvo puxou o cordão que prendia a carteira com seu distintivo de delegado que estava escondido sob sua camisa, e sacou a pistola da parte traseira do cós de sua calça jeans.
– Mãos ao alto! – Gritou o alvo.
– Ô chefia, faz isso não! – Agora era a vez do ladrão tentar dialogar. Por que ele tinha que assaltar logo um policial?
– Passa de volta a aliança, o relógio e a carteira!
– Pensa bem, chefia. Eu só tava defendendo o meu pão.
– Pensa bem, nada! – Desta vez era o alvo que sorria. – Ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão!